Você provavelmente já está familiarizado ou, pelo menos, já ouviu falar de distúrbios alimentares como a anorexia, a bulimia, a ortorexia e a vigorexia, não é mesmo?
Pois bem, vamos conhecer melhor abaixo um outro distúrbio alimentar, que está associado à diabetes do tipo 1 – a diabulimia.
O termo diabulimia é proveniente da junção das palavras “diabetes” e “bulimia”. Trata-se de uma condição em que o paciente diagnosticado com a diabetes do tipo 1 decide por conta própria diminuir a quantidade de insulina que toma ou deixar de tomar a insulina com o objetivo de conseguir emagrecer.
Isso porque o organismo da pessoa diagnosticada com a doença não produz a insulina, o hormônio responsável por auxiliar o nosso corpo a utilizar a glicose como combustível. Sem a insulina, a glicose é eliminada do corpo por meio da urina frequentemente, resultando em uma perda de peso rápida.
A doença pode afetar qualquer pessoa diagnosticada com a diabetes do tipo 1. No entanto, de acordo com as psicólogas e PhDs Marilyn Ritholz e Ann Goebel-Fabbri, as mulheres que possuem a doença têm 2,5 vezes mais chances de desenvolver um distúrbio alimentar.
De acordo com a psicóloga Marilyn Ritholtz, assim como acontece com os outros tipos de distúrbios alimentares, a diabulimia começa com uma baixa autoestima. “Existe uma preocupação com o peso e a imagem corporal e uma aspiração pelo perfeccionismo”, explicou a PhD.
Os primeiros sinais do distúrbio são similares aos sintomas do baixo controle de insulina, que podem incluir níveis altos de hemoglobina glicada (A1C).
A condição ainda traz sinais como: problemas associados à imagem corporal, leituras de glicose extremamente altas, depressão, alterações de humor, fadiga, infecções frequentes (fúngicas, na bexiga, entre outras), baixos níveis de potássio, baixos níveis de sódio, aumento do apetite, perda de peso rápida mesmo quando a pessoa come normalmente ou come muito, diminuição da concentração, redução da motivação.
O fato de uma pessoa manter segredo a respeito dos números relacionados ao nível de açúcar no sangue e sobre a sua alimentação, assim como o costume de cancelar consultas médicas marcadas, também podem indicar a existência de um quadro de diabulimia.
O distúrbio alimentar pode ser considerado bastante grave por uma série de razões. Como acabamos de ver, ele está relacionado à cetoacidose diabética. Nos casos em que a diabulimia leva a esse problema e não ocorre o tratamento adequado, ocorre a falência do coração e de outros órgãos.
Já as primeiras complicações do distúrbio alimentar abrangem: sede excessiva, exaustão, confusão, perda muscular, níveis altos de colesterol, infecções na pele, infecções por fungos e infecções por estafilococos (bactérias).
A diabulimia ainda pode fazer com que complicações da diabetes como a retinopatia (complicação que afeta os olhos, segundo o Hospital Israelita Albert Einstein), a neuropatia (danos nos nervos que vem acompanhados de dor, fraqueza e dormência nas mãos e nos pés, conforme o Hospital Israelista Albert Einstein) e a nefropatia (problema nos rins, de acordo com o News Medical) sejam desenvolvidas mais rapidamente.
Essas complicações podem provocar a infertilidade. Como se não bastasse, estágios mais avançados da diabulimia pode causar gastroparesia (retardo do esvaziamento gástrico, segundo o Esadi), doença arterial periférica, aterosclerose e doença hepática.
Casos mais severos do distúrbio alimentar pode causar o acidente vascular cerebral (AVC), coma e, inclusive a morte. Pesquisas já mostraram que os pacientes que não tomam uma quantidade suficiente de insulina por um longo período apresentam uma expectativa muito menor de vida.
A psicóloga e PhD Ann Goebel-Fabbri alertou ainda que os distúrbios alimentares correspondem aos transtornos psicológicos classificados como os mais letais.
Se você está desconfiado de que tem a doença ou acha que alguém que você conhece pode apresentar esse transtorno, é fundamental que a ajuda médica seja rapidamente procurada. Além do médico que já acompanha o paciente em questão, também pode ser necessária a consulta com um médico que trabalha com a saúde mental para que o diagnóstico seja feito.
Geralmente, se o profissional acreditar que a pessoa tem a diabulimia, ele checa a extensão dos sintomas, tanto físicos quanto psicológicos, podendo determinar que sejam realizados exames físicos e psicológicos.
Por exemplo, o médico pode solicitar exames sanguíneos para avaliar a hemoglobina glicada (A1C) ou os níveis de cetonas.
Uma vez que o diagnóstico foi estabelecido, é necessário que o problema seja tratado. Porém, vale ter em mente que o tratamento para os distúrbios alimentares precisa ser individualizado e acontece de acordo com cada distúrbio e cada paciente.
Não existe um protocolo específico para o tratamento da diabulimia, porém, sabe-se que pode ser perigoso sair de níveis muitos altos de glicose no sangue para os valores que se deseja atingir de maneira muito rápida. Logo, o processo deve acontecer de maneira gradual.
Assim, esse tratamento deve acontecer com a presença de um grupo de médicos que trabalham juntos nos aspectos físicos e psicológicos do paciente. No caso da diabulimia, também é necessária a presença de um endocrinologista e de um nutricionista.
Com isso, o tratamento da condição pode envolver fatores como educação nutricional, psicoterapia e, até mesmo medicamentos. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é um método que costuma ser utilizado para lidar com distúrbios alimentares e envolve aspectos relacionados a como lidar com o estresse e como monitorar o consumo de comida associado ao humor.
Há ainda a chamada terapia baseada na família (family-based therapy, FT), que pode ser eficiente principalmente para crianças e adolescentes.
Entretanto, também pode existir a necessidade de que antes de tudo, a pessoa com diabulimia seja hospitalizada para cuidar das complicações que o distúrbio possa ter trazido a ela.
Fonte: Mundo Boa Forma